sábado, 25 de outubro de 2008

Racionalidade Doentia.



Chegou domingo, o dia mais sombrio, o primeiro. O tempo transformado em tédio. O jornal de hoje encardiu minha mão, sem culpa. As noticias são as mesmas, nunca mudam, as manchetes com as carcaças trágicas de sempre, as frases polidas dos políticos e o vertiginoso humor de quinta. Hoje o dia não tem sol, não tem chuva, não tem cor, nem cara. Merda! Meus cigarros acabaram. Catei imediatamente minhas calças perdidas e meu chinelo gasto. Eu me sinto sujo, não sei se sou eu ou o mundo, mas estou tão sujo.
Odeio este corredor metódico. Ímpar e par, ímpar e par distinguem as portas coladas umas nas outras, separando vidas, comportamento e histórias. Aliás, história é o que não deve faltar para esta velha aqui do lado, ela vive do passado, toda noite ela chora. Quando o sino bate pela última vez, começa o pranto urra e geme feito louca, esta velha barulhenta.
No caminho até a venda, não pensei em outra coisa senão na moça da venda. Um apreço de mulher, sempre que me vê esboça um sorriso – No que posso ajudar? Tão prestativa esta moça. Nunca foi tão prazeroso comprar cigarros, às vezes, só às vezes me pego olhando para os seios dela, porque quase sempre noto a presença dos lábios carnudos, disfarçados sob o efeito de um batom claro e morno. Ah se ela soubesse..
- No que posso ajudar?
- Um maço de cigarros, o mais barato!
Esse vício eu herdei de papai, amargura em pessoa. Era um horror quando sorria, os dentes podres e amarelados, sempre bêbado pelos cantos. Papai se foi, mas deixou marcas, pelo corpo de mamãe.
Estou me sentindo tão solitário, faz tanto tempo que não entram em minha casa, que não entram em minha vida. Aqui na rua brinca um garotinho tão serelepe, apronta com todos, ele me chama atenção, é diferente dos outros assim como eu. Ele precisa de alguém para dizer as coisas certas para ele. Acho que posso fazer isso.
- Tenho uma coisa para você.
- O que é? – perguntou ele com um olhar tão curioso.
A brincadeira dele perdeu a graça, eu sabia, eu podia fazer isso por ele.
- Venha comigo, eu vou te mostrar.
- Eu não quero! – disse pedante.
Ah como são ingênuas as crianças, tolas, tolas! Acho que foi minha aparência que não o agradou muito. Ele deveria saber, o que importa é o que está por dentro, mas eu sei, tem muitas coisas que ele não sabe. É tão necessário. Ás vezes as coisas tem de ser feitas à força, só às vezes, quase sempre eu consigo convencer.
- Venha! – fui obrigado a puxá-lo pelos frágeis braços.
- Me solta! Me solta! – não gritou mais do que duas vezes, tapei a boca dele e o arrastei até a entrada do prédio.
Não era preciso nada disto, mas esta criança sem modos deixou as coisas mais complicadas. Logo ele irá aprender as coisas certas, as coisas do meu jeito. Apaguei o cigarro na pequenina mão dele cuidadosamente. Algumas lágrimas escorreram, um sinal de que estávamos nos entendendo.
O coloquei sentado no sofá, deixei para ele meu lugar favorito, do quarto o espiei, estava tranqüilo observava atentamente minha mobília empoeirada, seu olhar tornou-se desperto quando avistou uma coleção de soldadinhos de chumbo. Ele estava se divertindo, não tanto quanto eu.
- Trouxe umas coisas para você, pode fazer o que quiser com elas.
- Eu não gosto das suas coisas, eu quero ir embora –disse ameaçando chorar.
- Mas eu gosto de você e da roupa que você está vestindo, quem foi que lhe deu?
- Minha madrinha!
- É mesmo? Você não gosta de nada que eu tenho? Essas coisas são para você!

Ele estava notavelmente mais calmo e entretido, toda criança tem uma curiosidade aguçada, e no caso dele estava superando o medo da situação.
- O que este palhaço faz? Porque ele está zangado? –disse me entregando um fantoche que eu havia deixado sobre o chão junto com outras coisas.
- Ele diz verdades!
- Ele fala? Como?

Coloquei a mão dentro do buraco do fantoche e o manuseei por um breve tempo
- Você pode fazer qualquer pergunta para ele! Vamos lá, tente! O nome dele é Dick.
- Dick?
- Sim..Vamos pergunte; -eu estava ansioso para saber o que estava na cabeça deste pobre menino
- Dick, vocês vão me machucar?
- Machucar você? O que você acha?
- Eu acho que sim..
- Você vai machucar a gente?
- Eu não..
- Então nós também não vamos machucar você, tenho uma música você quer ouvir?
- Quero..
- Tim trouxe você aqui,
ele quer te agradar,
você vai fazer o que ele quiser,
você vai sorrir.
não vai ser mais um garoto idiota.
Tim vai te ensinar coisas legais,
ele vai te ajudar, seja bonzinho.
Seja bonzinho,
não seja como as outras pessoas más,
não seja como o mundo.

O medo do pequenino exalava pela sala, eu respirei fundo e satisfeito. Tive uma boa idéia
- Agora é sua vez de ser Dick, o que acha? –entreguei o fantoche para ele.
Ele me fitou surpreso, mas não recusou a idéia. Dick me dirá todas as verdades.

-Olá Dick.
- Olá Tim, também tenho uma música para você.
Confesso que me surpreendi, ele estava entrando no jogo!
- Tim, Tim, Tim,
eu não gosto de você,
você é doente e sozinho,
Tim, Tim, Tim,
se eu pudesse te matar,
matava!
Não assuste mais o garoto,
e eu deixo você livre.

Eu caí na gargalhada e o menino no ímpeto também.
- Você é um menino muito bonito sabia?
- Eu não acho!
- Conhece a Dor? Pode mostrar o seu corpo para mim?
Ele correu assustado em direção a porta.
- Não quer mais brincar com as minhas coisas? –fui me aproximando em passos lentos com um sorriso estridente.
- Dick disse que você não me machucaria, por favor, por favor!
- Vamos continuar a nossa brincadeira -coloquei minhas mãos em volta do pescoço pálido dele, logo foi tomando cor, um tom rubro. – Cante para mim, a música de Dick de novo, Vamos Cante, Cante! –Ele mal podia respirar, eu apertava cada vez mais forte – Cante seu menino idiota, eu não estou ouvindo!
-Tim,Tim, Tim, eu não gosto de você –cantou o menino com dificuldade suas últimas palavras.
- Eu também não gosto de você !! – eu disse com vontade.
Coloquei o corpo desmaiado, do menino morto, no meu lugar favorito! Tirei as roupas dele, tão lindas roupas, e o embrulhei com o jornal do dia. O sino anuncia estonteante suas últimas badaladas do dia, hoje a velha não chorou.
Sentei no sofá e apreciei, trago a trago do meu maço barato. Eu me sinto tão sujo, não sei se sou eu ou este lugar.

Amanheceu a Segunda tão alegre, caminhei sem pressa até o banheiro. Olhei-me no espelho e sorri animado. Ás vezes eu me sinto desse modo, às vezes, quase sempre me sinto entediado, mas hoje não era domingo, ainda não. Tomei um café sem gosto e passei o resto do dia trabalhando. Um murmúrio de um menino chorão me deixou nervoso. Merda! Meus cigarros acabaram.

De mãos dadas com o social.



A realidade das favelas e periferias é cruel, as crianças deixam de estudar e com o tempo as únicas portas abertas são as do crime e do tráfico. Todas essas crianças e adolescentes também sonham, desejam ter um lugar na sociedade, ser reconhecido como gente mas infelizmente viver neste mundo não é uma questão de escolha e sim falta de opção.


Projeto AdolescenTI


Uma oportunidade para Adolescentes de baixa renda conhecerem o mundo da tecnologia da informação, com iniciativa da Petrobrás, Cefet e Unisys. São selecionados alunos de escolas públicas municipais que nunca tiveram contato com um computador.


O projeto oferece um curso com duração de 3 meses, com duas aulas semanais. O conteúdo é basicamente o pacote do Office, os alunos são orientados por profissionais voluntários da Petrobrás. O curso se divide em 4 módulos, a cada módulo um grupo de profissionais diferentes passam o conteúdo. No final todos os alunos que apresentaram uma frequência regular ao curso participam de uma cêrimonia de formatura e recebem um certificado.


Com uma grande dose de boa vontade o projeto tem intuito de abrir portas para o futuro dos adolescentes e também mostrar que apesar das desigualdades existentes, todos são capazes de alcançar um bom lugar, dignamente. Eu faço parte deste time e é indescritivel o prazer que sinto em ajudar. Traga alegria, incentivo e esperança você também. Clique aqui e conheça as diversas formas de como ajudar o mundo a melhorar! Muita gente precisa de você.


abraços.






sexta-feira, 24 de outubro de 2008

INACABADO.

Intensificava o brilho nos olhos dela quando os faróis reluziam anunciando a chegada da noite. Ela estava ao meu lado, não importava minha extensa lista de fracassos, minha roupa barata ou o meu tipo ultrapassado eu tinha algo que ela queria, que fazia ela estar ali.
Está noite ela era minha. Mal sabia como agir. O tempo se arrastava feito uma lesma no leito de morte e a fila estava à mesma de duas horas atrás. Aquela situação estava se tornando um tanto desagradável. Todas as palavras ensaiadas fugiam com desespero de minha boca, o silêncio foi tornando-se cruel. Ela me fitava com um ar impaciente. Fui tomado por uma agonia e decidi que não permitiria que esta situação se estendesse por mais um segundo sequer. Ia agir quando senti por trás de mim uma mão pesada que me jogou contra a parede áspera.

- Sai da frente seu palerma - soou uma voz grossa e nítida

Quando abri os olhos pude me dar conta da origem, um grandalhão careca colecionador de tatuagens. Encolhi-me feito um menino e rezei mentalmente para que aquele olhar dilacerador do dono da bandana preta não fosse para mim. Mas como típico sortudo que sou. Sim eu era o alvo. Sem o menor pudor ele descansou suas mãos sujas sobre o corpo dela. Senti-me incomodado com a repugnância que os olhos dela exalavam e não tive outra escolha senão partir para cima dele. Humilhado e envergonhando ainda me restavam um olho roxo e sensação de ser um saco recheado de ossos quebrados.

Com a delicadeza de uma pluma ela pôs as mãos sobre meus ferimentos atestando a gravidade de cada um.
- Você está bem? –perguntou ela com preocupação
- Sim, estou. – respondi áspero.

Maldita hora em que eu fui contratar esta puta, assumo que quis acreditar que ela não fosse como todas. O que a solidão não faz com um homem. Talvez seja algo que eu não queira confessar, talvez. Nunca estive com uma mulher antes. Nunca soube. Não foi difícil me sentir atraído por um par de coxas magricelas cobertas por um exíguo pedaço de pano, propositalmente. Um rosto pálido, apesar de tudo inocente. Eu a desejei por um instante, ou mais. Ela me desejou por uns míseros trocados.

- Se levanta! –pediu ela se contorcendo de força tentando me erguer.
- Você pode ir embora, toma aqui o seu dinheiro – entreguei a ela um bolo amassado com algumas notas.
- Não precisa disso cara, nem fizemos nada –recusou o dinheiro, colocando o bolo amassado de volta no meu bolso. –E além do mais, valeu por ter me defendido daquele escroto, não é porque eu sou da vida, que qualquer porco pode sair colocando a mão em mim.
- Defender? Você só pode estar brincando, foi vergonhoso!
- É não foi lá essas coisas, mas o que vale é a intenção. –disse ela soltando um riso espontâneo.

O clima ficou bem menos tenso do que na fila da boate, o excesso de gestos que ela fazia ao falar e as histórias malucas soando em um vocabulário chulo, ela soube me entreter e sem que eu me desse conta estava perto de casa. Onde estava com a cabeça levando uma puta para minha casa.

- Já chegamos. -disse apressado.

Ela me fitou com um olhar malicioso e eu não soube como agir. Idiota, idiota, xinguei o meu íntimo. Eu estava ofegante e não era difícil inalar o perfume barato dela que adentrava em minhas narinas anestesiando minha agonia, as mulheres feriam meu tradicional comportamento e bom senso.

- Não vai nem me convidar pra entrar? –animou-se rapidamente.
- É melhor você ir embora
- É isso mesmo que você quer?
- Há dúvidas? – entreguei novamente o dinheiro a ela e apontei o caminho pra rua.
- Então ta bom valentão, vê se cuida deste olho roxo, até mais.

Até mais? Ela esperava mesmo que nos encontrássemos de novo? Aquela figura enigmática foi se distanciando e em incontáveis passos se perdeu em meio aos feixes de luzes da avenida. Uma mistura sensual com um ar inocente.

Projeto Rio Biografias.


Com patrocínio do Instituto OI Futuro e apoio da Secretaria de Estado de Educação o Projeto Rio Biografias trata-se de um laboratório de escrita presencial e digital destinado a professores e alunos de escolas públicas de Ensino Médio.O tema pricipal do projeto são biografias reais ou inventadas que se passem no Rio de Janeiro.

Possui oficinas presenciais ministradas pela criadora do projeto, a escritora Sonia Rodrigues, que ocorrem nas escolas das regiões Metropolitanas e oficinas on-line, onde os participantes passam por etapas e recebem dicas e métodos para desenvolver histórias, como por exemplo a narração, ambiente, diálogo etc.

Foi criado também um concurso de contos, alunos e professores que completaram as oficinas, podem participar do blog postando contos de acordo com o tema do projeto. Durante o concurso a equipe de apoio do projeto auxiliam e os participantes podem enviar e receber comentários críticos.
No final do mês de Agosto deste ano, o concurso chegou ao final e os melhores contos postados no blogs serão publicados em um livro. A maioria dos textos selecionados são de alunos e o lançamento do livro está previsto para o mês de Novembro.

O projeto é uma ótima iniciativa, estimula a escrita, a criatividade e incentiva a leitura, para mais informações de como participar, no site Autoria.
O vento, o mar a pedra e eu. somente.

Cidadanida: Um desejo de todos.


Nasce o cidadão, lá em cima do morrão

Há quem diga, que estes não necessitam de educação.

Amadurece sem o pão, entram pro mundo do crime,

Enquanto burgueses da parte baixa, amadurecem de regime.


Discursando demagogia estão os bonzinhos no poder.

Onde está a justiça dos pobres exilados?

Exilados de direitos!

Cumprir seus deveres é lei,E ter seus direitos?

Perderam-se a ética e a cidadania.


O rio dos desempregados, poluídos de falsas esperanças.

Eles só querem mais fartura nos pratos de suas crianças

O rio dos desempregados, poluídos de desespero.

Eles só querem se sentir alguém.
E isso é um apelo.

Viva a Diversidade!


Já é Tempo!

Eu estou só.

As pessoas andam de um lado para o outro, elas estão tão preocupadas com nada, elas estão felizes por isso. São sorrisos verdadeiros. Vão gastar o dia ali, elas estão vivendo.
Absorta, perdida. O meu corpo está falando. -Elas são tudo que você queria ser, mas você jamais queria ser como elas. Dói.
Cada pessoa um olhar. Estou só tentando disfarçar minha tristeza, minha solidão. Olho para os lados, ansiosa, como se estivesse esperando por alguém, olho para o relógio, como se o tempo estivesse se arrastando demais. Não dura muito, sou tão desinteressante, continuo a observar.


Futilidade, Futilidade, Futilidade e uma moça chorando, ela está sendo amparada, ela está tão triste, um choro desesperado. Ora, são as mesmas que estavam sentadas no café quando eu entrei aqui, nessa hora eu me sentia como alguém. Agora eu não sou nada e aquela pobre moça deselegante, aparência rude coberta de pranto. Quanto há de sinceridade neste abraço? Eu posso ler o que ela diz -Tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem, o pior já passou. E mantinha-se intacto o pranto. Palavras às vezes tão desnecessárias.


Futilidade, Futilidade, Futilidade e um menino concentrado, seus olhos estavam fixos na direção da figura de seu pai, se é pai fica como uma especulação, ele observava o ioiô subindo e descendo, movimentos inusitados, e seu olhar esmoreceu, a incompreensão tornou-se explícita, como ele não conseguia fazer o que seu pai executava com tanta facilidade? Como se agisse involuntariamente. O pai devia estar radiante internamente, como é bom saber o que alguém não sabe, como é bom demonstrar isso. Não que seja um ato maldoso, mas cada um sabe o quanto é bom.

Futilidade, Futilidade, é realmente Futilidade, lá vem eles, os corpos sem conteúdo. Tão preocupados em sair bem nas fotos ou com suas missões diárias de se sentirem superiores. Atrás os rastejantes, insatisfeitos com suas vidas medíocres, tão medíocres almejando a vida dos outros. Eles estão querendo sobressair, assumindo a incapacidade de ser o que é. Tão felizes.

Minha atenção se desprende dolorosamente deste préstito vertiginoso. Vazio, desespero, alegria, afã. O meu ópio. Quando estou feliz não há nada. Somente a minha felicidade. Quando a tristeza vem, tudo toma vida, tudo têm culpa. Meus sentidos atuam mais atentos. Percebendo.
Quantas pessoas estão me observando agora? Quantas pessoas não notaram minha presença?

Sinto que estou só, imperceptível.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

domingo, 20 de abril de 2008

Distorção Limitada

Minha mente distorce as paisagens,
não vejo mais atrás de muros.

A Rosa




Algo diz amor, é um rio
Que deita a relva suavemente

Algo diz amor, é uma lâmina
Que deixa sua alma sangrando

Algo diz amor, é uma fome
Uma necessidade de dor sem fim

Eu digo amor é uma flor
E você é a apenas a semente.





janis joplin

céu





o céu me instiga.
me trás sensações.
mas o amo em segredo.
não o posso tocar!
e essa relação não passa de um platônico amor.

Tristeza Do Pequenino



sorte dos que tiveram sempre sorte.
e dos que experimentaram primeiro sorrir.

Palhaço


se o que sempre sorria.
se põe triste,
que alegria esperar?

nós que poucas vezes rimos com vontade.

Desespero


me causas desespero por ter que viver.
me causas desespero imaginar morrer.


o que é tranquilo a longo tempo?

Pequenos Prazeres.