sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Eu estou só.

As pessoas andam de um lado para o outro, elas estão tão preocupadas com nada, elas estão felizes por isso. São sorrisos verdadeiros. Vão gastar o dia ali, elas estão vivendo.
Absorta, perdida. O meu corpo está falando. -Elas são tudo que você queria ser, mas você jamais queria ser como elas. Dói.
Cada pessoa um olhar. Estou só tentando disfarçar minha tristeza, minha solidão. Olho para os lados, ansiosa, como se estivesse esperando por alguém, olho para o relógio, como se o tempo estivesse se arrastando demais. Não dura muito, sou tão desinteressante, continuo a observar.


Futilidade, Futilidade, Futilidade e uma moça chorando, ela está sendo amparada, ela está tão triste, um choro desesperado. Ora, são as mesmas que estavam sentadas no café quando eu entrei aqui, nessa hora eu me sentia como alguém. Agora eu não sou nada e aquela pobre moça deselegante, aparência rude coberta de pranto. Quanto há de sinceridade neste abraço? Eu posso ler o que ela diz -Tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem, o pior já passou. E mantinha-se intacto o pranto. Palavras às vezes tão desnecessárias.


Futilidade, Futilidade, Futilidade e um menino concentrado, seus olhos estavam fixos na direção da figura de seu pai, se é pai fica como uma especulação, ele observava o ioiô subindo e descendo, movimentos inusitados, e seu olhar esmoreceu, a incompreensão tornou-se explícita, como ele não conseguia fazer o que seu pai executava com tanta facilidade? Como se agisse involuntariamente. O pai devia estar radiante internamente, como é bom saber o que alguém não sabe, como é bom demonstrar isso. Não que seja um ato maldoso, mas cada um sabe o quanto é bom.

Futilidade, Futilidade, é realmente Futilidade, lá vem eles, os corpos sem conteúdo. Tão preocupados em sair bem nas fotos ou com suas missões diárias de se sentirem superiores. Atrás os rastejantes, insatisfeitos com suas vidas medíocres, tão medíocres almejando a vida dos outros. Eles estão querendo sobressair, assumindo a incapacidade de ser o que é. Tão felizes.

Minha atenção se desprende dolorosamente deste préstito vertiginoso. Vazio, desespero, alegria, afã. O meu ópio. Quando estou feliz não há nada. Somente a minha felicidade. Quando a tristeza vem, tudo toma vida, tudo têm culpa. Meus sentidos atuam mais atentos. Percebendo.
Quantas pessoas estão me observando agora? Quantas pessoas não notaram minha presença?

Sinto que estou só, imperceptível.

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Pequenos Prazeres.